Movie Talks no Talk of the Town

Movie Talks imageTodo mundo gosta de discutir cinema. Mas até que ponto estamos preparados? Assistir a um fi­lme pode ser uma experiência intensa, chata, excitante, prazerosa, frustrante, reveladora, dependendo de quem vê, e de como se vê.

Semana que vem, 29/10, começo a dar uma série de palestras – em inglês – no Talk of the Town sobre essa experiência. Eu e Cláudia Cruz, que trabalha com teatro e tradução, daremos juntas a primeira palestra, sobre Personagem, concebida por nós.

As palestras vão oferecer aos participantes a oportunidade de entender melhor o que assistem. Partindo dos elementos que compõem a obra cinematográ­fica – personagens, estrutura, ritmo, cenas, diálogos – eles serão treinados a reconhecer as ferramentas usadas pelos roteiristas para potencializar a experiência do espectador. Vai ser divertido.

O Talk of the Town, em Ipanema, é um espaço para estudo de línguas com uma abordagem diferente. Eles promovem cursos e debates em inglês e promovem a prática da língua através de temas atuais e assuntos do seu interesse. Dê uma olhada no site: www.talkofthetown.com.br

Agradeço muito a quem puder dar uma força, repassando a mensagem para pessoas que possam se interessar.

Protagonista, herói e personagem principal

Um post do blog do roteirista John August me chamou a atenção hoje. Como sempre, com sua linguagem simples e direta, ele esclareceu a distinção entre esses personagens tão importantes: protagonista, herói e personagem principal. Sou fã do John. Esse post me ajudou a entender melhor a construção de personagem de um roteiro que estou escrevendo neste momento.

Já falei um pouco sobre isso aqui no meu blog. Os posts mais acessados aqui são os que se referem a personagens, especialmente sobre protagonista. Abordei mais a construção deste personagem em roteiros do que em romances, pois as demandas são diferentes. Nos roteiros, a estrutura dramática requer certas atribuições que a literatura não exige. Mas isso é papo para outro post…

 John August explicou essa distinção de forma simples e eficiente, muito melhor do que eu faria.

Um leitor dele questionou como o roteiro de Curtindo a Vida Adoidado (Ferris Bueller’s Day Off ) pode ser considerado um ‘clássico’ e funcionar tão bem quando a ‘regra’ do protagonista não se aplica ao caso dele. Afinal, Ferris não muda durante o filme, ou seja, o ‘arco’ de sua trajetória se mantém horizontal. Isto é, Ferris termina o filme exatamente como é no início do filme.

John esclarece uma coisa importante: nem sempre o personagem principal é quem ‘protagoniza’ o filme. Além disso, nem sempre um filme funciona porque seguiu ‘regras’.

Pode parecer estranho, mas é verdade se levarmos em conta a distinção que ele fez em outro post (leia, em inglês, “What’s the difference between hero, main-character and protagonist”) sobre as variações desses três personagens. Vou traduzir esse trecho do post:

“Herói
Minha definição super-simplificada: este é o personagem que você espera que vá ‘ganhar.’ Embora não tenha problema pensar no Super Homem ou no Aladin, o herói não tem que ser nobre, corajoso ou especialmente talentoso. Contanto que você esteja torcendo por ele, é só o que importa.

Personagem principal
É exatamente como parece: a estória é principalmente sobre esse personagem. Confuso? Em geral, o nome dele aparece no título: Shrek, Rei Arthur, Tootsie, Cidadão Kane.

Protagonista
É o personagem que muda durante o curso da estória, viajando do Ponto A ao Ponto B, literal ou figurativamente. Ele aprende e cresce conforme a estória progride. Em geral, protagonistas querem algo no início da narrativa e, no final, descobrem que precisam de algo diferente.

Em resposta ao seu leitor, John explica que, no caso de Ferris Bueller, não é ele quem muda pois o ‘protagonista’ é o Cameron – embora seja um protagonista relutante, que é arrastado por Ferris, o personagem principal. A mudança é pequena, mas no final Cameron confronta o pai. Como diz John no post, o ‘arco’ não precisa ser épico.

Na maior parte dos filmes, o protagonista engloba esses três personagens e é simultaneamente personagem principal, protagonista e herói. A Ripley de Alien é um exemplo disso. Como protagonista, ela começa o filme relutante e, no final, se engaja ferozmente na luta. A mudança da protagonista não tem que ser, necessariamente, para ‘melhor’ ou ‘pior’, basta que haja uma mudança – de A para B.

John propõe que se brinque de ‘encontrar o protagonista’ como um exercício intelectual. É fácil no caso de Curtindo a Vida Adoidado ou de Charlie e a Fábrica de Chocolate (onde Charlie é o personagem principal, mas Willy Wonka é o protagonista, pois é ele quem muda, enquanto Charlie começa e termina o filme como um garotinho legal), mas no caso de Piratas do Caribe, não é tão simples.

Foi o que aconteceu no caso do meu roteiro. Tenho dois personagens principais, mas depois me dei conta de que o protagonista não era quem eu pensava. O primeiro (personagem principal), embora sofra muito, seu sofrimento não se traduz em mudança. O segundo (protagonista) sofre tanto quanto ele, mas muda efetivamente.

O caso de Billy Elliot é diferente, já que Billy é o protagonista, mas ele não muda durante o filme – quem muda é seu pai, o que permite que o talento, o amor e a persistência de Billy não sejam desperdiçados e ele tenha sucesso,  sem que isso signifique que o pai possa ser chamado propriamente de protagonista…

Para John, no entanto, se a estória funciona, isso é o que importa, independente de os personagens estarem ou não cumprindo suas funções arquetípicas. Portanto, não os ‘force’ a entrar em moldes.

Eis os links para os posts de John (em inglês) sobre essa questão:

. If we played by the rules right now we’d be in gym (sobre Curtindo a Vida Adoidado)

. What’s the difference between hero, main-character and protagonist

The importance of what’s at stake / A importância do que está em jogo


Em português

Neil Romanek wrote a great article for TwelvePoint – A Tale of Two Star Wars – about why, technically speaking, The Phantom Menace (Star Wars first prequel) fails as a film. He points out that, after watching the much expected prequel, he left the theatre with a “bad feeling”. That was exactly how I felt too. I didn’t like it either and could easily blame Jar Jar Bins for it but I know it in’t just that. There are loads of reasons to dislike it. In fact, a documentary has been produced by Star Wars fans exploring why the 3 prequels simply don’t work.

I’ve never bothered to actually examine The Phantom Menace to try and understand the reasons why the film fails so dismally. I simply dismissed it and moved on – to dislike the following two prequels even more. I just preferred to ignore their existences. In fact, I stick to the first and second Star Wars films as my favourites – The Empire Strikes Back being the best sequel ever.

But Neil has a point when it comes to being a screenwriter – if there’s something about a film you think doesn’t work, you must try and identify what it is. It’s part of the job. So he went on analysing The Phantom Menace and found a very crucial mistake: a script structural problem. Normally, that’s where films fail – and that’s why understanding structure is so important. He points out that the stakes in the The Phantom Menace aren’t high enough. I couldn’t agree more. This may not be the only problem of the script but it’s certainly a big one.

He says in the article:

“High stakes are essential to telling a good story. ‘High stakes’ doesn’t have to mean the threat of a bomb exploding in five minutes: a teen’s parents coming home in five minutes is more than enough to put us on the edge of our seats. It isn’t threats of physical torment that determine the height of the stakes either since a missed bus can be the most devastating moment in a character’s life.

What determines the height of the stakes is how far apart the poles are of success and failure as well as the character’s depth of commitment. There is little middle ground in the best stories. In the movies we love, a character may strive for great success but the penalties for failure are equally great.”

This is absolutely true. When Neil compares the stakes for the five main characters in the two films, this becomes very clear:

“In Star Wars:

. LUKE must deliver R2D2 safely into the hands of the rebellion. If he fails, the fully-operational Death Star will mean the end of the rebellion.

. DARTH VADER must retrieve the stolen Death Star plans and learn the location of the secret rebel base. If he fails, the rebels could destroy the Death Star and cripple the power of the Empire, and he will have a great deal of explaining to do to the Emperor.

. HAN SOLO must pay back Jabba The Hutt. If he fails, he will be a fugitive, fleeing bounty hunters and ruthless gangsters for the rest of his life (and, wonderfully, he does fail in order that the other characters may succeed).

. PRINCESS LEIA must retrieve the plans for her fellow rebels. If she fails, it will mean the end of the rebellion.

. OBI-WAN KENOBI must deliver the plans safely to the rebels. If he fails, it will mean the end of the rebellion.

Looking at The Phantom Menace, we see a different picture:

. QUI-GON JINN must negotiate a peace between the Trade Federation and the Naboo. If he fails the Trade Federation may take over the planet Naboo.

. QUEEN AMIDALA must stop the Trade Federation from dominating her planet. If she fails she will no longer rule and her planet will be controlled by someone else.

. DARTH SIDIOUS must make Queen Amidala sign a treaty with the Trade Federation. If he fails, the status quo will probably continue.

. ANAKIN SKYWALKER must increase his understanding of The Force and return to Tatooine to free his mother and the slaves. If he fails, he will have broken his promise to his mother. (It’s worth noting that he does fail at this with no real consequences to anyone, including himself.)

. JAR-JAR must do what he can to help Qui-Gon and Obi-Wan. If he fails, it’s doubtful the Jedis’ mission would be negatively affected and the status quo will continue.

The lack of consistent high stakes in The Phantom Menace is the movie’s main flaw. Almost across the board, the price of a character’s failing is simply that the status quo will continue or the slack will be picked up by some other character.”

He also mentions something really valuable: “Also note how in Star Wars all the characters – protagonists and antagonists – are bound together by the same problem. Whatever the outcome is, every character will be permanently affected. It is simply not possible for any of principal characters – or minor characters, for that matter – to pass through the story without being changed for the worse or the better. In fact, no one in the entire galaxy will be unaffected by how the story plays out. Those are high stakes.”

Stakes are crucial in any script and, as Neil says, they don’t need to be a literal life/death situation – but the distance between achieving and failing has to be steep. It’s something to think about when writing your stories: stakes are vital not only for the protagonist but, ideally, for all main characters and their goals should be related somehow – all characters’ objectives/goals should relate to the protagonist’s ultimate goal. I’ll go back to some of my stories and examine them more carefully. Thanks for that, Neil!

Neal Romanek’s article “A Tale of Two Star Wars” was published at TwelvePoint.com.

Neil’s website is: http://www.nealromanek.com/. There you’ll also find an article about structure analysis where he looks into some Star Wars sequences “Introduction to the Sequence Structure“.

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In English

A importância do que está em jogo

Neil Romanek escreveu um artigo excelente para a TwelvePoint – A Tale of Two Star Wars – sobre por que, em termos técnicos,  A Ameaça Fantasma (o primeiro prequel de Guerra nas Estrelas) não funcionou como filme. Ele ressalta que, depois de assistir ao tão ansiosamente esperado Episódio I, saiu do cinema com uma “sensação ruim”. Foi exatamente assim que me senti. Não gostei do filme e culpei o Jar Jar Bins, mas não era essa a razão. Havia muitas razões para não gostar do filme. De fato, um documentário foi produzido por fãs de Guerra nas Estrelas falando sobre as razões pelas quais os três episódios novos simplesmente não funcionam.

Eu nunca tinha me dado ao trabalho de examinar A Ameaça Fantasma para tentar entender as razões do fracasso. Simplesmente ignorei e segui em frente – apenas para desgostar ainda mais dos 2 filmes seguintes. Preferi ignorar suas existências. Na verdade, prefiro me ater ao primeiro e segundo Star Wars como os meus favoritos – sendo O Império Contra-Ataca, o melhor segundo episódio de todos os tempos.

Mas Neil levanta uma questão relevante quando se trata de ser roteirista – se há algo em um filme que você sente que não funciona, é preciso tentar identificar o que é. Faz parte do trabalho. Então, ele analisou A Ameaça Fantasma e descobriu um erro crucial: um problema na estrutura do roteiro. Normalmente, a estrutura é o ponto onde muitos filmes falham – por isso entender estrutura é tão importante. Ele aponta para a questão dos stakes, ou seja, o que está em jogo. Em A Ameaça Fantasma o que esté em jogo não é forte o suficiente. Concordo em gênero, número e grau. Esse pode não ser o único problema do filme ou do roteiro mas certamente é um problemão.

Ele diz no artigo:

“A importância do que está em jogo é essecial quando se trata de contar uma boa estória. Essa importância (do que está em jogo) não tem que ser a ameaça de uma bomba explodir a cada cinco minutos; os pais de um adolescente estarem para chegar em cinco minutos é mais do que suficiente para nos fazer roer as unhas. Não são ameaças de tortura física que determinam a importância do que está em jogo tampouco, pois perder o ônibus pode ser o momento mais devastador na vida de um personagem.

O que determina a importância do que está em jogo é o quão distantes estão os dois pólos entre sucesso e fracasso, assim como o quão o personagem está engajado. Existe pouco escopo para se ficar em cima do muro nas melhores estórias. Nos filmes que adoramos, o personagem pode lutar absurdamente para obter sucesso mas as penalidades para o fracasso são imensas.”

Isso é totalmente verdadeiro. Neil compara o que está em jogo nos cinco personagens principais dos dois filmes e essa premissa se torna clara:

“Em Guerra nas Estrelas:

. LUKE precisa entregar o R2D2 em segurança nas mãos dos rebeldes. Se ele falhar, a Estrela da Morte se tornará totalmente operacional e isso significará o fim da rebelião.

. DARTH VADER precisa recuperar os diagramas roubados da Estrela da Morte e localizar a base secreta dos rebeldes. Se ele falhar, os rebeldes poderão destruir a Estrela da Morte, o que irá fragilizar o poder do Império – e ele ainda vai ter que se explicar ao Imperador.

. HAN SOLO precisa pagar sua dívida com Jabba The Hutt. Se ele falhar, vai se tornar um fugitivo tentando escapar de caçadores de recompensas e gangsters malvados para o resto da vida (e, de forma maravilhosa, ele falha neste objetivo, de forma a possibilitar que outros personagens tenham sucesso).

. PRINCESA LEIA precisa recuperar os diagramas para os seus companheiros rebeldes. Se ela falhar, será o fim da rebelião.

. OBI-WAN KENOBI precisa entregar os diagramas em segurança aos rebeldes. Se ele falhar, será o fim da rebelião também.

Analisando A Ameaça Fantasma, vemos um cenário diferente:

. QUI-GON JINN precisa negociar a paz entre a Trade Federation e Naboo. Se ele falhar, a Trade Federation poderá tomar o poder em Naboo.

. RAINHA AMIDALA precisa impedir que a Trade Federation domine seu planeta. Se ela falhar, ela não será mais a regente e seu planeta passará a ser controlado por outra pessoa.

. DARTH SIDIOUS precisa fazer com que a Rainha Amidala assine o tratado com a Trade Federation. Se ele falhar, o status quo provavelmente continuará o mesmo.

. ANAKIN SKYWALKER precisa aumentar seu conhecimento da Força e voltar a Taooine para libertar sua mãe e os escravos. Se ele falhar, ele vai ter quebrado a promessa que fez à sua mãe (vale notar que ele falha nesse objetivo, sem que isso tenha nenhuma consequência real para ninguém, incluindo para ele mesmo).

. JAR-JAR precisa fazer o possível para ajudar Qui-Gon and Obi-Wan. Se ele falhar, é pouco provável que a missão dos Jedi seja afetada negativamente e o status quo permanecerá o mesmo.

A falta de consistência naquilo que está em jogo é a principal fraqueza de A Ameaça Fantasma. Em quase todas as situações, o preço a se pagar se o personagem falhar em sua missão é apenas que o status quo continuará o mesmo ou que algum outro personagem assumirá o lugar.”

Ele também coloca algo muito valioso: “Perceba também como em Guerra nas Estrelas todos os personagens – protagonistas e antagonistas – estão ligados pelo mesmo problema. Qualquer que seja o resultado final, cada personagem será permanentemente afetado. É simplesmente impossível para qualquer um dos personagens principais – e até aos personagens secundários – passar pela estória sem ser afetado para melhor ou para pior. Na verdade, ninguém na galáxia inteira deixará de ser afetado por como a estória vai se desenrolar. O que está em jogo é muito importante.”

O que está em jogo é importante em qualquer roteiro e, como diz Neil, não precisa ser uma situação de vida ou morte – mas a distância entre ter sucesso ou fracassar precisa ser grande. É algo a se pensar quando se está elaborando a estória: o que está em jogo não é vital apenas para o protagonista mas, idealmente, para todos os personagens principais e seus objetivos precisam estar relacionados de alguma forma – todos os objetivos/metas devem se relacionar ao objetivo/meta do protagonista. Eu vou rever algumas das minhas estórias e examinar esse aspecto com mais cuidado. Obrigada, Neil!

O artigo de Neil Romanek “A Tale of Two Star Wars” foi publicado em inglês na TwelvePoint.com. O site de Neil é: http://www.nealromanek.com/. Lá você vai encontrar também um artigo onde ele analisa a estrutura de algumas sequências de Guerra nas Estrelas (Introduction to the Sequence Structure)

New article: Structure in Scripts / Novo artigo: Estrutura de Roteiros

I attended this workshop at Euroscript in 2009 but this article was published in June 2010 at TwelvePoint.com website – my fault, since I had a huge personal issue to deal with in 2009 and was unable to produce the article earlier. Apologies to Euroscript for the delay.

This article talks about what I’ve learned in this workshop about Structure in scripts: approaching the basic rules, useful tools, the traditional Three Act Structure, non-linear structures, how to deal with flashbacks and some  other interesting hints from tutor Charles Harris.

Take a look at: Structural faults

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Participei deste workshop na Euroscript em 2009, mas este artigo só foi publicado em junho de 2010 no site da TwelvePoint.com – minha culpa, pois tive um sério problema pessoal em 2009 e fiquei impossibilitada de escrever este artigo antes. Minhas desculpas à Euroscript pela demora.

Este artigo é sobre o que aprendi neste workshop sobre Estrutura de roteiros: como abordar as regras básicas, ferramentas úteis, a tradicional estrutura em Três Atos, estruturas não-lineares, como lidar com flashbacks e algumas outras dicas interessantes do professor Charles Harris.

Dê uma olhada em: Problemas de Estrutura

Protagonist / Protagonista

A great definition of protagonist at John August’s blog:

“The protagonist is the character that suffers the most” (Michael Goldenberg)

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Excelente definição de protagonista no blog do John August:

“Protagonista é o personagem que sofre mais.” (Michael Goldenberg)

Writing a Thriller / Escrevendo um Thriller

I’ve just posted a new article about Thrillers. Last April I attended an Euroscript Workshop about the importance of understanding genre, focused on Thrillers.

Learning about genres will help you better understand your audience’s expectations in order to better catter for them. The workshop also provided loads of useful information on the main elements of the Thriller genre, the pitfalls and character journey.

Take a look at: The Thriller

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Acabo de postar um novo artigo sobre Thrillers. Em abril passado participei de um workshop da Euroscript sobre a importância de se entender ‘gênero’, com um enfoque particular no gênero Thriller.

Aprender sobre gênero nos ajuda, enquanto escritoras, a melhor compreender as expectativas do público de forma a que possamos atendê-las melhor. O workshop oferece muitas informações úteis sobre os principais elementos do Thriller, as armadilhas e a jornada do personagem.

Dê uma olhada em: Filmes do Gênero Thriller

Subvertendo o pré-concebido: vampiros, zumbis, dragões e etc.

Não sei se o título para este post é apropriado, mas a idéia é a seguinte: em algumas de nossas estórias existem figuras ou personagens que repetem um padrão que pode ser chamado ‘pré-concebido’.  São os clássicos vampiros, dragões, zumbis etc, que têm sempre atributos fortes que os definem como tal.

Durante meu mestrado, esse foi um tema de uma das aulas do módulo Ficção de Fantasia: pensar em como subverter ou modificar esses “padrões”. Por exemplo, que elementos novos ou diferentes poderíamos atribuir a um dragão? Em geral, o dragão é uma criatura temível que solta fogo pela boca (ou nariz) e que pode ser tanto um agente do bem quanto do mal. O exercício era justamente pensar em como trazer algum atributo novo ou diferente a esse padrão usual sem permitir que esses personagens perdessem a “essência” que os tornava reconhecíveis.

Utilizamos esses “padrões pré-concedibos” muitas vezes apenas “copiando e colando” o que constitui esse personagem ou figura sem pensar em modificá-lo ou acrescentar algo diferente.

Veja o exemplo do livro “Crepúsculo” (Twilight), tão badalado atualmente. Nele, a tradicional imagem do vampiro é ligeiramente alterada – alguns elementos dela, pelo menos. Os Cullen não se expõem ao sol porque seriam destruídos ou queimados, mas porque a pele deles brilha como diamante e isso, que os torna ainda mais belos (predadores usando a beleza como arma de caça), acaba por expô-los de forma indesejada. Eu nunca tinha visto a “subversão” deste atributo clássico em um vampiro. Já os vi ignorarem o sol ou serem destruídos por ele, mas nunca terem sua beleza intensificada pela luz do dia. Não sei se a autora introduziu essa modificação no “padrão pré-concebido” dos vampiros de forma consciente, mas foi interessante.

Para usar um exemplo de cinema me ocorre agora o “oráculo” de Matrix. Quem esperaria que uma dona de casa que assa cockies e fuma seja um oráculo? Quando me deparei com a personagem, logo um sorriso se estampou na minha cara. Eu estava esperando alguma coisa muito séria e austera e pensei: que máximo, me surpreendeu.

(Um parênteses – veja também o post sobre a questão dos estereótipos em heróis e vilões.)

Com certeza você já deve ter sido surpreendida por “subversões” similares. A sugestão é: quando pensar em introduzir personagens deste tipo – vampiros, unicórnios, dragões, oráculos, zumbis etc – pense em quais elementos podem ser subvertidos sem que eles percam as características que os tornam reconhecíveis. Ninguém tem dúvida de que os vampiros de “Crepúsculo” são vampiros mesmo, mas os toques que a autora deu os fizeram ligeiramente diferentes dos vampiros tradicionais.

Esse tipo de “subversão” se aplica muito a estórias de Fantasia, mas podemos pensar em como encontrar elementos inovadores em qualquer um dos gêneros literários. É ter consciência do processo de escrita e botar a criatividade para funcionar.

Outra questão importante em relação a isso é que, se esse detalhe não necessariamente torna qualquer estória de melhor ou pior qualidade, adiciona um elemento novo a padrão velho e pode torná-la mais atraente a editoras na tentativa de ser publicado. Editoras estão sempre procurando coisas novas, abordagens diferentes ao que já é de gosto popular. Esse elemento não vai garantir a publicação – isso depende de diversos fatores – mas pode chamar a atenção.

Another precious hint from John August / Mais uma dica preciosa de John August

John shared another hint in his blog that is a precious idea. He says:

Burn down the house

“As the writer, you need to burn down houses. You need to push characters out of their safe places into the big scary world — and make sure they can never get back. Sure, their stated quest might be to get home, but your job is to make sure that wherever they end up is a new and different place.”

Keep reading the post, it’s valuable advice. It applies mostly to scripts but it’s useful to think about it also when you’re writing fiction in general.

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John compartilhou mais uma dica no seu blog. É o que ele chama de “Burn down the house” – a tradução literal é “Queimar a casa” mas eu diria que o significado se aproxima mais de “Botar a casa abaixo”. Este post se aplica mais a roteiros, mas serve também para algumas formas de ficção.

No trecho acima ele diz: “Como escritor, você precisa derrubar casas. Precisa expulsar os personagens das suas zonas de conforto em direção ao mundo assustador – e garantir que eles não possam retornar nunca mais. Claro que a busca estabelecida deles pode ser chegar em casa, mas seu trabalho é garantir que, qualquer que seja o lugar onde eles terminem, seja um lugar novo e diferente.”

No post, para quem não lê em inglês, ele continua explicando que escritores tendem a ser benevolentes com seus personagens e que é difícil, às vezes, aceitar que eles sejam privados de tudo. Não importa em que gênero, é necessário retirá-los da redoma da normalidade.

O Fogo é uma das formas de “inciting incident” (o incidente que tira o protagonista da normalidade e inicia a trama), John nos lembra. Em Guerra nas Estrelas, Luke volta pra casa e encontra sua família dizimada pelas forças do Império em um incêndio. Na verdade, este “fogo” ou “destruição” podem ser simbólicos – qualquer coisa que impeça o retorno à mesma normalidade de antes. Por exemplo, em Gladiador, a família do Russell Crowe é assassinada. Isso quer dizer que o protagonista, mesmo que volte para casa – ou para um normalidade restabelecida – não será exatamente para o mesmo lugar.

John propõe o seguinte exercício: examine seus roteiros e verifique o que pode ser ‘queimado’ e porquê você não queimou.

Every villain is a hero at John August’s blog / Cada vilão é um herói no blog de John August

John August,  a brilliant screenwriter who’s also my favourite blogger, posted an interesting blog today about villains: “Every villain is a hero.” I must confess I use the same strategy when approaching villains – by giving them a legitimate motivation (at least they are convinced their motivation is legitime). Take a look at the post, it’s not big but a good reminder – and, by all means, search his blog, there are fabulous hints about screenwriting there.

John August,  um roteirista brilhante que também é meu blogger favorito, publicou um post super interessante hoje sobre vilões: “Cada vilão é um herói.” Confesso que uso a mesma estratégia quando abordo os vilões – dando a eles uma motivação legítima (ou pelo menos eles estão convencidos de que é legítima) e um trajetória. Dê uma olhada no post, não é grande mas é uma lembrança valiosa – e, por favor, dê uma vasculhada no blog dele, tem dicas fabulosas sobre escrever para roteiros.

Em resumo, para quem não fala inglês, ele diz que um antagonista bem definido provavelmente não sabe que é o vilão da estória. E ele cita, para exemplificar, alguns personagens famosos. O personagem de Alan Rickman, em Duro de Matar, provavelmente vê a si mesmo como o personagem de George Clooney em Ocean’s 11. Em Michael Clayton, Tilda Swinton está lutando para proteger a si mesma e a empresa. Ela se vê como numa estória de sobrevivência, com ela mesma sendo a vítima heróica. Até monstros funcionam da mesma maneira – o Alien, por exemplo, está protegendo a sua prole.

Em thrillers, comédias ou filmes de ação é importante olhar a estória do ponto de vista do vilão, seus objetivos e os obstáculos em seu caminho além do herói, diz August. Observe também a questão da motivação – não apenas no foco que ela tenha (por exemplo, cobiça ou vingança), mas na jornada do vilão. Talvez apenas uma fração dela seja perceptível da perspectiva do herói, mas conhecer toda a sua trajetória nos oferece mais para combater. E August completa: tenha simpatia por ele e o deixe vencer algumas vezes, mas o faça trabalhar duro para isso.

Muito obrigada, John!

Desenvolvendo personagens: heróis ou vilões.

No blog Complications Ensue: The Crafty TV and Screenwriting Blog, Alex Epstein, um roteirista profissional, compartilha uma dica que ele aprendeu com um outro outro escritor. Simples, mas muito interessante:

“Describe a character, hero or villain, as his best friend would describe him while setting up a blind date. Then do it from the point of view of the co-worker who hates his guts and is unloading to his wife after work, or finally has a chance to sink him with a job recommendation.” 

Descreva um personagem, herói ou vilão, da forma como o melhor amigo dele o descreveria se estivesse arranjando para ele um “encontro às escuras”. Depois faça isso do ponto-de-vista de um colega de trabalho que o detesta e está desabafando com a esposa depois do expediente, ou finalmente tem a chance de acabar com ele com uma recomendação de trabalho.

Não sei se a minha tradução de “sink him” está correta, mas dá pra ter uma idéia.

A inspiração surgiu da tradicional avaliação de performance a que muitos de nós já fomos submetidos (ou submetemos alguém!) – em especial a modalidade 360 graus onde você (no caso o personagem) é avaliado pelo seu chefe, seus colegas e seus clientes – e tem a chance de avaliá-los também.

É bom ver o “dark side” dos nossos heróis e os aspectos positivos dos nossos vilões!